O Códice de Leningrado (ou Leningradensis, como também é conhecido), datado de 1008 d.C., é o manuscrito completo mais antigo do Texto Massorético da Bíblia Hebraica. Ele foi escrito por escribas massoréticos seguindo a tradição de Aaron ben Asher, um dos mais renomados eruditos da escola de Tiberíades, conhecida por seu trabalho minucioso na padronização do texto bíblico. Esse códice é considerado uma das fontes textuais mais importantes para a crítica textual da Bíblia Hebraica e serve como base para muitas edições acadêmicas modernas.
Historicamente, o Códice de Leningrado desempenhou um papel fundamental na preservação e transmissão do texto massorético, servindo como uma testemunha chave na transição dos textos bíblicos da antiguidade para o medievo. O manuscrito contém todos os livros do Tanakh (Antigo Testamento hebraico), incluindo o Pentateuco, os Profetas e os Escritos, sendo amplamente utilizado como referência para as edições críticas da Bíblia, como a Biblia Hebraica Stuttgartensia (BHS) e, mais recentemente, a Biblia Hebraica Quinta (BHQ).
O conteúdo do Códice de Leningrado segue estritamente as regras e observações dos massoretas de Tiberíades, cuja missão principal era garantir a precisão e consistência do texto bíblico através das gerações. Para alcançar isso, os massoretas desenvolveram um elaborado sistema de vocalização, que adicionava marcas vocálicas ao texto consonantal hebraico, facilitando a correta pronúncia das palavras. Além disso, criaram um sistema de cantilação e acentuação, que indicava como o texto deveria ser lido nas sinagogas.
Embora o Códice de Leningrado tenha sido produzido em uma época de estabilidade relativa para a comunidade judaica, ele emergiu como uma referência textual particularmente significativa nos séculos seguintes, quando manuscritos mais antigos e parciais foram perdidos ou destruídos. Sua precisão e completude o tornaram um modelo preferido pelos estudiosos para reproduzir e validar o Texto Massorético.
O Códice de Leningrado também tem uma história interessante. Ele foi adquirido por Abraham Firkovich, um colecionador de manuscritos judeus do século XIX, que o levou para a Rússia. Inicialmente preservado em São Petersburgo, o códice passou a ser conhecido como "Codex Leningradensis" durante o período soviético, em homenagem à cidade de Leningrado (atual São Petersburgo). Hoje, o manuscrito está preservado na Biblioteca Nacional Russa.
Além de sua importância textual, o Códice de Leningrado é notável por sua caligrafia primorosamente trabalhada e pelas iluminuras que adornam algumas páginas. Essas ilustrações, além de ser um testemunho do trabalho artístico e espiritual dos escribas, também são um reflexo da cultura judaica medieval e de sua reverência pela transmissão fiel das Escrituras.
Comparado com outros textos bíblicos hebraicos antigos, como o Códice de Alepo, que é anterior, mas incompleto, o Códice de Leningrado oferece uma visão completa e estável do Texto Massorético, tornando-se uma peça indispensável para a erudição bíblica moderna. A utilização deste códice nas edições críticas mais respeitadas, como a BHS, reforça sua posição de autoridade no campo dos estudos bíblicos.
Atualmente, a Biblia Hebraica Quinta está em processo de publicação e, assim como a BHS, usa o Códice de Leningrado como base textual, destacando ainda mais seu papel contínuo na exegese e interpretação bíblica.
Referências:
YEIVIN, Israel. The Hebrew Bible: History and Reception. 2ª ed. Jerusalem: Magnes Press, 1976.
TOV, Emanuel. Textual Criticism of the Hebrew Bible. 3ª ed. Minneapolis: Fortress Press, 2012.
DOTAN, Aron. The Scribal Tradition of the Bible: The Codex Leningradensis and Its Place in Jewish History. Oxford: Oxford University Press, 2001.
KAHLE, Paul. The Cairo Geniza. 2ª ed. Oxford: Blackwell, 1959.
WEINBERG, Joanna. The Codex Leningradensis: A Milestone in the History of the Hebrew Bible. London: British Library, 1998.
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Link para visualização do documento histórico:
Bíblia Hebraica (em Texto Massorético):