A Bíblia de Gutenberg, também conhecida como Bíblia de 42 linhas, é amplamente reconhecida como o primeiro grande livro impresso usando tipos móveis na Europa, marcando o início da era da impressão e da disseminação em larga escala de textos escritos. Produzida em Mainz, na Alemanha, na oficina de Johannes Gutenberg, a Bíblia começou a ser impressa em 23 de fevereiro de 1453 e foi concluída em 24 de agosto de 1456. A obra foi composta em dois volumes de formato fólio, contendo 322 folhas no primeiro volume e 319 no segundo, somando 641 folhas (1.282 páginas) no total.
O texto impresso é uma reprodução da Vulgata, a versão latina da Bíblia traduzida por São Jerônimo no século V. A Vulgata era a tradução oficial das Escrituras da Igreja Católica e desempenhava um papel crucial na vida religiosa e acadêmica da Europa medieval. O Antigo Testamento ocupa o primeiro volume e parte do segundo, que também contém todo o Novo Testamento. Gutenberg escolheu o estilo de escrita gótica, imitando as letras manuscritas utilizadas em livros religiosos da época, uma escolha que refletia tanto a estética medieval quanto a familiaridade visual para os leitores de seu tempo.
O impacto da Bíblia de Gutenberg vai muito além de sua mera existência física. Com a criação de tipos móveis de metal, Gutenberg revolucionou o processo de produção de livros, que até então dependia inteiramente da cópia manual de manuscritos pelos monges. Esse avanço permitiu a produção de múltiplos exemplares de um texto em uma fração do tempo necessário para escrever à mão, diminuindo significativamente o custo e aumentando o acesso aos livros, especialmente à Bíblia.
Estima-se que cerca de 180 cópias da Bíblia de Gutenberg tenham sido produzidas, das quais aproximadamente 48 ainda existem em diferentes estados de preservação, algumas completas e outras incompletas. O papel utilizado na impressão foi de altíssima qualidade, e algumas cópias receberam ilustrações e iluminuras feitas à mão, o que evidencia a tentativa de Gutenberg de criar um produto que combinasse o novo método de impressão com elementos tradicionais da produção de livros.
A invenção de Gutenberg e a publicação da Bíblia tiveram implicações profundas não apenas na religião, mas também na educação, na ciência e na cultura em geral. A rápida multiplicação de textos escritos contribuiu significativamente para o surgimento do Renascimento, para a difusão do Humanismo e, posteriormente, para a Reforma Protestante, liderada por figuras como Martinho Lutero, que se beneficiou diretamente da possibilidade de distribuir suas ideias em grande escala graças à impressão.
A importância da Bíblia de Gutenberg é reconhecida mundialmente, e a obra foi declarada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO devido à sua influência inegável no desenvolvimento cultural, intelectual e espiritual da civilização ocidental. A Bíblia de Gutenberg simboliza a transição de um mundo dominado pela transmissão oral e pela cópia manual dos textos sagrados para um mundo onde a palavra escrita se tornava cada vez mais acessível ao público em geral.
Referências:
EISENSTEIN, Elizabeth L. The Printing Revolution in Early Modern Europe. Cambridge: Cambridge University Press, 1983.
FÜSSEL, Stephan. Gutenberg and the Impact of Printing. Aldershot: Ashgate Publishing, 2005.
HINDMAN, Sandra. Printing the Written Word: The Social History of Books, circa 1450-1520. Ithaca: Cornell University Press, 1991.
STEINBERG, Sigfrid Henry. Five Hundred Years of Printing. New York: Penguin Books, 1996.
TARABORRELLI, Giacomo. The Gutenberg Bible: First Printed Bible in the West. Venice: Accademia Italiana delle Arti Grafiche, 2010.
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Link para visualização do documento histórico:
The Gutenberg Bible : Johannes Gutenberg : Free Download, Borrow, and Streaming : Internet Archive