1519-21 d.C. - Novo Testamento de Erasmo


A publicação do Novo Testamento por Erasmo de Roterdã, em 1516, marcou um divisor de águas no estudo crítico das Escrituras, refletindo o espírito do humanismo renascentista e seu desejo de retornar às fontes originais da fé cristã. Sua edição, conhecida como Novum Instrumentum omne, foi o primeiro Novo Testamento impresso em grego e incluiu uma nova tradução latina elaborada por Erasmo, que buscava corrigir os erros e as distorções acumuladas ao longo dos séculos nas traduções anteriores, especialmente na Vulgata de São Jerônimo. O texto, disposto em colunas paralelas com o grego e o latim, foi acompanhado por suas famosas Anotações (Annotationes), que ofereciam comentários detalhados e sugestões interpretativas.

O impacto dessa publicação não pode ser subestimado. Erasmo, um dos mais importantes intelectuais de sua época, acreditava que o retorno ao texto original das Escrituras proporcionaria uma fé mais pura e menos corrompida por adições teológicas tardias e práticas eclesiásticas controversas. Ele sustentava que a simplicidade e a clareza do evangelho primitivo poderiam ser restauradas por meio desse exame crítico e filológico. A edição de 1516 foi rapidamente revisada e ampliada em 1519, quando Erasmo ajustou vários pontos de sua tradução com base em novos manuscritos e sugestões de colegas. Uma terceira edição, de 1521, ganhou destaque por ser impressa em um formato menor e mais acessível, o que facilitou a circulação do texto em um público mais amplo.

O Novo Testamento Grego de 1521 é especialmente significativo porque se acredita que foi com essa edição que Martinho Lutero trabalhou ao preparar sua tradução para o alemão do Novo Testamento, publicada em setembro de 1522. A obra de Erasmo, portanto, não apenas forneceu uma base textual crítica para o estudo das Escrituras, mas também influenciou profundamente os movimentos reformistas que iriam transformar a cristandade ocidental nos séculos seguintes. Lutero, ao traduzir o Novo Testamento para o vernáculo alemão, iniciou uma corrente de traduções das Escrituras que foram fundamentais para o desenvolvimento da Reforma Protestante.

Esse esforço filológico de Erasmo também reflete o clima intelectual da Europa Ocidental no início do século XVI. O humanismo renascentista promovia o estudo dos textos antigos em sua língua original como forma de alcançar uma compreensão mais autêntica e profunda. No caso das Escrituras, isso significava uma reavaliação da tradição estabelecida pela Igreja. Erasmo, embora nunca tenha se afastado da Igreja Católica, lançou as bases para um novo tipo de estudo bíblico, mais independente e crítico, que acabaria influenciando tanto reformadores como Lutero quanto futuros eruditos cristãos.

Referências: ERASMO, Desiderius. Novum Instrumentum omne. Basileia: Froben, 1516.

REUSS, Eduard. History of the Sacred Scriptures of the New Testament. Edimburgo: T. & T. Clark, 1884.

DARLOW, Thomas Herbert; MOULE, Horace Frederick. Historical Catalogue of the Printed Editions of Holy Scripture. Londres: British and Foreign Bible Society, 1903.

TRAPP, J. B. Erasmus, Colet and More: The Early Tudor Humanists and Their Books. Londres: British Library, 1991. 

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1519: https://drive.google.com/file/d/1WtTm3o11l2ybPY7c-9gi1eAjm-FV5wt4/view?usp=sharing

1521: https://drive.google.com/file/d/1TCN13IAMJgHZFVrwrxiybBZ_vrhgYB1Y/view?usp=sharing