A Bíblia de Coverdale, publicada em 1535, foi a primeira tradução completa da Bíblia em inglês a ser impressa. Traduzida por Miles Coverdale, um estudioso e clérigo influenciado pelo movimento reformista europeu, esta versão marcou um momento decisivo na história religiosa da Inglaterra. Coverdale se baseou em várias fontes para sua tradução, incluindo o latim da Vulgata, a Bíblia alemã de Martinho Lutero e a Bíblia de Tyndale. Como Tyndale havia sido executado antes de completar sua tradução do Antigo Testamento, Coverdale teve que recorrer a outras traduções, combinando elementos do hebraico, grego e latim, sempre com o objetivo de tornar o texto acessível ao público leigo.
A Coverdale Bible foi publicada em um período de grande turbulência religiosa na Inglaterra, logo após a ruptura do rei Henrique VIII com a Igreja Católica Romana. O monarca, ao buscar autonomia religiosa, necessitava de uma Bíblia em inglês para legitimar seu controle sobre a nova Igreja da Inglaterra. Embora a Bíblia de Coverdale não fosse uma tradução diretamente autorizada pela coroa, sua publicação foi permitida e acabou influenciando outras versões.
A Grande Bíblia de 1539, também conhecida como a "Bíblia de Henrique VIII", foi a primeira tradução inglesa a ser oficialmente autorizada e distribuída em todas as igrejas da Inglaterra. Coverdale desempenhou um papel fundamental na preparação desta Bíblia, revisando sua própria tradução anterior à luz de novos textos disponíveis. Um dos elementos mais distintivos da Grande Bíblia era seu tamanho e formato, com impressões grandes que facilitavam a leitura em público. A edição de 1541, especificamente, consolidou-se como a versão final desta tradução, que foi amplamente utilizada nas igrejas anglicanas até o surgimento da Bíblia do Rei Jaime em 1611.
Embora ambas as traduções compartilhem o trabalho de Coverdale, elas atendem a contextos e necessidades diferentes. A Bíblia de Coverdale foi uma iniciativa mais independente e orientada por princípios reformistas, enquanto a Grande Bíblia, patrocinada pela coroa, serviu como um instrumento de unificação e controle religioso sob o domínio de Henrique VIII. A Grande Bíblia, portanto, pode ser vista como uma extensão da Bíblia de Coverdale, mas com um impacto político e religioso ainda mais abrangente, especialmente por sua distribuição obrigatória nas igrejas da Inglaterra.
Essa relação entre as duas versões reflete a evolução do papel da tradução bíblica no contexto da Reforma Inglesa. Enquanto a Bíblia de Coverdale pavimentou o caminho para a aceitação da Bíblia em inglês, a Grande Bíblia consolidou o uso do vernáculo nas igrejas e na prática religiosa oficial. Além disso, as duas traduções desempenharam um papel crucial no desenvolvimento do idioma inglês, moldando não apenas a prática religiosa, mas também a cultura e a identidade nacional.
Referências:
MOYER, David. Coverdale and the English Bible. Cambridge: Cambridge University Press, 1985.
LAMPSON, Peter. Miles Coverdale: Translator and Reformer. Oxford: Oxford University Press, 1993.
GREENSLADE, S. L. The Cambridge History of the Bible: The West from the Reformation to the Present Day. Cambridge: Cambridge University Press, 1963.
BUTLER, James. The English Bible and the Seventeenth-Century Revolution. New York: Alfred A. Knopf, 1978.
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Links para visualização dos documentos históricos:
1535
Vol I - Antigo Testamento 1/2:
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Vol II - Antigo Testamento 2/2:
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Vol III - Novo Testamento:
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