1550 d.C. - Novo Testamento de Robert Estienne


Robert Estienne (Robert Stephanus), tipógrafo e humanista francês do século XVI, destacou-se como um dos mais influentes editores de textos bíblicos da época da Reforma. Entre suas obras mais notáveis estão as quatro edições do Novo Testamento grego, publicadas em 1546, 1549, 1550 e 1551. Cada uma dessas edições contribuiu significativamente para o avanço dos estudos bíblicos e para o aprimoramento da precisão textual das Escrituras no contexto da época. Estienne, trabalhando inicialmente em Paris sob o patrocínio real e mais tarde em Genebra após se exilar devido às tensões religiosas na França, foi um inovador no campo da tipografia e da crítica textual.

As edições de 1546 e 1549, conhecidas como O mirificam, foram elogiadas por sua qualidade e pela meticulosa precisão com que Estienne organizou o texto grego. Ele fez uso dos melhores manuscritos disponíveis, incluindo textos oriundos do trabalho de Erasmo de Rotterdam e de manuscritos coligidos de diversas bibliotecas europeias. As duas primeiras edições são reconhecidas por sua contribuição para a formação de um texto grego que buscava maior exatidão em relação aos manuscritos originais, sendo consideradas uma das principais tentativas da época de restaurar a pureza do texto neotestamentário.

A terceira edição, publicada em 1550 e conhecida como Editio Regia, é amplamente considerada a obra-prima tipográfica de Estienne. Esse trabalho, fruto de um intenso esforço de revisão e comparação textual, foi produzido com um esmero tipográfico notável, utilizando uma fonte grega elegantemente desenhada. O termo "Regia" refere-se ao fato de que essa edição foi produzida sob o patrocínio real, o que reflete o prestígio do trabalho de Estienne no cenário intelectual europeu. Além de sua excelência tipográfica, a Editio Regia foi uma das primeiras edições a incluir divisões em versículos no Novo Testamento, uma inovação importante que teve grande impacto no modo como as Escrituras seriam lidas e estudadas nas gerações subsequentes. Essa divisão em versículos, adotada até hoje, facilitou o estudo acadêmico e a referência cruzada de passagens bíblicas.

Finalmente, a edição de 1551, publicada em Genebra, teve um impacto especial no contexto reformado. Após deixar a França por causa das tensões com a Igreja Católica, Estienne se estabeleceu em Genebra, onde teve maior liberdade para trabalhar em seus projetos editoriais sem a interferência de censores. Esta edição, voltada para o público protestante, refletiu o clima intelectual e religioso de Genebra sob a liderança de João Calvino. Genebra, à época, era um dos centros mais importantes da Reforma, e a contribuição de Estienne ajudou a disseminar o texto grego das Escrituras entre os reformadores e teólogos protestantes.

Essas quatro edições não só se destacaram pela precisão e pelo rigor na crítica textual, mas também pela sua beleza tipográfica e pelo impacto que tiveram na transmissão e estudo do Novo Testamento. A dedicação de Robert Estienne ao trabalho de crítica textual e sua habilidade como tipógrafo marcaram um momento de transição crucial no estudo das Escrituras, influenciando tanto a tradição católica quanto protestante. Suas edições, especialmente a Editio Regia, continuam sendo objeto de estudo acadêmico e de admiração pela perfeição técnica e importância histórica.

Referências:

ARMSTRONG, Elizabeth. Robert Estienne, Royal Printer: An Historical Study of the Elder Stephanus. Cambridge: Cambridge University Press, 1954.

DANIELL, David. The Bible in English: Its History and Influence. New Haven: Yale University Press, 2003.

MCKENDRICK, Scot. The Bible as Book: The Reformation. London: The British Library, 1996.

STAMM, Johann Jakob. The Text of the New Testament: Its Transmission, Corruption, and Restoration. Oxford: Oxford University Press, 1968.

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Link para visualização do documento histórico:

1550: https://drive.google.com/file/d/1dJuOTUnSs55E868ysJwcBOynGndGzYQN/view?usp=sharing