1568 d.C. - Bíblia dos Bispos


A Bíblia dos Bispos (Bishop's Bible), publicada pela primeira vez em 1568, foi uma tentativa da Igreja Anglicana de criar uma tradução oficial das Escrituras que pudesse substituir a popular Bíblia de Genebra entre os leitores ingleses e nas igrejas. Sob o reinado de Elizabeth I, a Igreja da Inglaterra buscava consolidar sua independência tanto do catolicismo romano quanto do protestantismo reformado calvinista, e a Bíblia dos Bispos foi uma resposta a essa necessidade de uniformidade litúrgica e teológica.

O contexto da publicação da Bíblia dos Bispos foi marcado pela crescente influência da Bíblia de Genebra entre os protestantes ingleses, especialmente entre os puritanos. A Bíblia de Genebra, publicada em 1560, era amplamente utilizada nas casas e por teólogos reformados, mas suas anotações marginais calvinistas incomodavam o clero anglicano, que via na obra uma ameaça à autoridade da Igreja estabelecida. Por isso, em 1561, o Arcebispo de Canterbury, Matthew Parker, iniciou o projeto de uma nova tradução oficial das Escrituras, com o objetivo de restaurar a unidade na Igreja e garantir uma versão que fosse aceitável tanto para o clero quanto para os fiéis.

A tradução da Bíblia dos Bispos foi realizada por um grupo de teólogos anglicanos, muitos dos quais ocupavam cargos episcopais, o que explica o nome da obra. Entre os principais tradutores estavam o próprio Matthew Parker e outros bispos da Igreja da Inglaterra. Eles utilizaram a Grande Bíblia de 1539 como base para sua tradução, mas também consultaram o texto hebraico e grego, além das traduções anteriores, incluindo a Bíblia de Genebra e a obra de William Tyndale. No entanto, ao contrário da Bíblia de Genebra, a Bíblia dos Bispos evitava incluir anotações marginais de caráter teológico, sendo mais voltada para a leitura pública nas igrejas do que para o estudo pessoal.

Embora a edição de 1568 tenha sido a primeira versão completa da Bíblia dos Bispos, ela foi revisada em 1572, em uma tentativa de corrigir alguns erros e tornar o texto mais acessível. No entanto, apesar dos esforços, a Bíblia dos Bispos nunca conseguiu alcançar a popularidade da Bíblia de Genebra entre o público leigo. Uma das razões para isso foi a qualidade da tradução, que foi amplamente criticada por ser inconsistente e, em alguns casos, inferior às versões anteriores. Além disso, enquanto a Bíblia de Genebra estava amplamente disponível em formatos portáteis e era destinada ao uso pessoal, a Bíblia dos Bispos era um grande volume, mais adequado para o uso nas igrejas.

Mesmo com suas limitações, a Bíblia dos Bispos desempenhou um papel importante no desenvolvimento das traduções bíblicas em inglês. Ela foi a Bíblia oficial da Igreja da Inglaterra até a publicação da Bíblia do Rei Jaime (King James Version) em 1611, que seria baseada em grande parte na Bíblia dos Bispos, mas corrigida e revisada por um comitê de estudiosos mais amplo e diverso.

Assim, a Bíblia dos Bispos ocupa um lugar importante na história da tradução bíblica em inglês, representando um esforço de unificação religiosa e de controle doutrinário por parte da Igreja Anglicana no período elizabetano. Embora tenha sido superada pela Bíblia do Rei Jaime, seu legado permanece como uma testemunha das complexas relações entre religião, política e poder na Inglaterra do século XVI.

Referências:

DANIELL, David. The Bible in English: Its History and Influence. New Haven: Yale University Press, 2003.

MCKENDRICK, Scot. The Bible as Book: The Reformation. London: The British Library, 1996.

HILL, Christopher. The English Bible and the Seventeenth-Century Revolution. London: Penguin Books, 1993.

POLLARD, Alfred W. Records of the English Bible: The Documents Relating to the Translation and Publication of the Bible in English, 1525-1611. Oxford: Oxford University Press, 1911.

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Link para visualização do documento histórico:

1568: https://drive.google.com/file/d/15M4f1VQNYdwPxRego7w3CCgAzR4-lyRY/view?usp=sharing