1571 d.C. - Bíblia Poliglota de Antuérpia (Bíblia Régia)


A Bíblia Poliglota de Antuérpia, também conhecida como Bíblia Regia, foi uma das mais grandiosas obras de erudição bíblica do século XVI, publicada entre 1568 e 1571 sob a supervisão do renomado humanista e orientalista espanhol Benito Arias Montano (1527-1598). Esta bíblia, impressa em oito volumes, foi patrocinada por Felipe II da Espanha e é uma continuação do interesse acadêmico iniciado com a Bíblia Poliglota Complutense. Seu principal objetivo era facilitar a comparação dos textos bíblicos nas línguas originais com suas traduções, algo que era de vital importância para a exegese bíblica e a crítica textual na época.

A obra é especialmente notável por sua vasta abrangência de textos bíblicos. Cada volume da Bíblia Poliglota de Arias Montano contém o texto bíblico em várias línguas dispostas em colunas paralelas: hebraico, aramaico, grego, latim (Vulgata) e siríaco. Além disso, foram incluídas traduções latinas para os textos em grego e siríaco, a fim de facilitar a comparação entre as versões. Este formato inovador era essencial para os estudiosos que buscavam entender as nuances textuais e linguísticas do texto bíblico, permitindo uma crítica mais profunda e erudita. A Bíblia Regia incorporou, também, os Targumim — traduções aramaicas dos textos bíblicos —, que tinham sido apresentados pela primeira vez na Poliglota Complutense.

Benito Arias Montano era um renomado erudito e teólogo que tinha sido escolhido pelo rei Felipe II para supervisionar o projeto, em parte devido à sua vasta erudição em línguas orientais e sua reputação como um estudioso de confiança. Sua supervisão não se limitou à organização acadêmica da obra, mas também envolveu uma minuciosa revisão de todos os textos envolvidos, incluindo o grego e o hebraico. Montano também incluiu na obra um extenso aparato crítico, com prefácios e anotações explicativas que detalhavam as diferenças entre as traduções e os manuscritos originais, oferecendo uma rica contribuição ao estudo bíblico.

Além disso, a Bíblia Poliglota de Antuérpia foi produzida com grande cuidado tipográfico, sendo impressa na oficina de Christophe Plantin, um dos mais famosos impressores da Europa renascentista, cujo trabalho era admirado pela qualidade técnica e estética. A obra é considerada um marco na história da impressão devido à sua cuidadosa disposição gráfica e à precisão dos textos. As fontes utilizadas para o hebraico e o grego foram desenvolvidas especificamente para o projeto, garantindo uma apresentação clara e legível.

No entanto, a Poliglota de Antuérpia também esteve envolvida em controvérsias. Durante a época da Contrarreforma, havia um grande interesse da Igreja Católica em garantir que a interpretação das Escrituras fosse controlada de perto. Assim, a obra foi submetida a uma cuidadosa revisão pela Inquisição Espanhola, que desejava assegurar que nenhum erro doutrinário ou heresia fosse transmitido através das notas críticas e traduções. Apesar dessas preocupações, a Bíblia Poliglota foi amplamente aceita e tornou-se uma referência crucial para estudiosos e teólogos.

O impacto da Bíblia Poliglota de Arias Montano foi duradouro. Ela se tornou um ponto de referência para o estudo bíblico em várias tradições cristãs e foi utilizada tanto por católicos quanto por protestantes. Seu valor acadêmico era reconhecido mesmo entre os estudiosos que não compartilhavam a fé católica, sendo um recurso essencial para a crítica textual e a comparação dos textos bíblicos em suas línguas originais. A obra também é considerada um marco na história da filologia bíblica, influenciando o desenvolvimento de futuras edições poliglotas, como a Bíblia Poliglota de Paris e a Poliglota Waltoniana.

A obra de Arias Montano continua a ser um testemunho da erudição renascentista e do desejo de retornar aos textos originais das Escrituras, uma marca da época que visava à recuperação da pureza doutrinária e à defesa do catolicismo contra os avanços da Reforma Protestante.

Referências:

GARCÍA, M. Carmen Fernández. Benito Arias Montano y la Biblia Regia: Historia, Textos y Tradiciones. Madrid: Fundación Universitaria Española, 1999.

GINSBURG, Christian D. Introduction to the Massoretico-Critical Edition of the Hebrew Bible. London: Longmans, Green, 1897.

PLANTIN, Christophe. The Golden Compasses: A Study of the Work and Times of the Printer Christophe Plantin. Vol. 1. New York: Knopf, 1955.

REYNOLDS, L.D.; WILSON, N.G. Scribes and Scholars: A Guide to the Transmission of Greek and Latin Literature. Oxford: Clarendon Press, 1968.

RODRÍGUEZ, Mariano. Cisneros, el Cardenal de España: Su obra política, religiosa y cultural. Madrid: Alianza Editorial, 2005.

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Link para visualização do documento histórico:

1571: https://drive.google.com/file/d/1fb6J4Ys_zZkx91qxckVlSOIbfFBwTn6f/view?usp=sharing