1541 d.C. - A Grande Bíblia


A Grande Bíblia de 1541, também conhecida como Cranmer's Bible, representa um marco significativo na história da tradução da Bíblia para o inglês e no processo de consolidação da Reforma Inglesa. Esta tradução foi promovida pelo Arcebispo de Cantuária, Thomas Cranmer, e foi autorizada pelo rei Henrique VIII, tornando-se a primeira versão da Bíblia oficialmente imposta às igrejas da Inglaterra. Publicada pela primeira vez em 1539, a edição de 1541 consolidou sua importância, especialmente por ser a primeira Bíblia a ser colocada em todas as igrejas paroquiais, onde estava disponível para leitura pública.

A tradução da Grande Bíblia baseou-se em grande parte nos trabalhos anteriores de William Tyndale e Myles Coverdale. Tyndale, executado em 1536 por heresia, havia sido pioneiro na tradução direta da Bíblia a partir dos textos hebraicos e gregos originais, ao invés de depender da Vulgata Latina, como ocorria nas traduções anteriores. A Grande Bíblia utilizou muito da obra de Tyndale, especialmente no Novo Testamento e em partes do Antigo Testamento que ele havia completado antes de sua captura. Para os livros que Tyndale não traduziu, Coverdale forneceu uma versão baseada na Vulgata, no alemão de Lutero e em outras fontes latinas.

O nome "Grande Bíblia" deriva de suas dimensões físicas, pois era uma edição de grande formato (cerca de 40 cm de altura), especialmente destinada para leitura pública em igrejas. Outra característica distintiva da Grande Bíblia é sua associação com Thomas Cranmer, que escreveu um prefácio extenso para a segunda edição, em 1540. Esse prefácio incentivava a leitura das Escrituras e defendia a ideia de que o povo deveria ter acesso direto à Palavra de Deus, sem intermediários. Dessa forma, a Grande Bíblia desempenhou um papel crucial na disseminação dos princípios reformistas na Inglaterra.

A importância política e religiosa da Grande Bíblia está intimamente ligada às transformações ocorridas durante o reinado de Henrique VIII. Após a ruptura com a Igreja Católica Romana, a Inglaterra necessitava de uma versão oficial das Escrituras que refletisse os novos princípios teológicos estabelecidos pela Igreja Anglicana. Ao tornar a Bíblia acessível ao público, a Grande Bíblia não apenas fortalecia a autoridade do monarca sobre a Igreja, mas também promovia a alfabetização e a formação religiosa da população.

Embora a Grande Bíblia tenha sido amplamente adotada e usada em igrejas, não teve o mesmo impacto literário ou teológico de outras traduções posteriores, como a Bíblia de Genebra ou a King James Version. No entanto, seu papel na história da Reforma Inglesa e sua contribuição para o processo de legitimação da leitura pessoal das Escrituras não podem ser subestimados. A Grande Bíblia pavimentou o caminho para que a leitura e interpretação da Bíblia se tornassem práticas comuns e aceitas entre os fiéis ingleses.

Referências:

DANIELL, David. The Bible in English: Its History and Influence. New Haven: Yale University Press, 2003.

NORTON, David. A History of the English Bible as Literature. Cambridge: Cambridge University Press, 2000.

LOEWE, Raphael. The Medieval Hebrew Bible: The Making of the Christian Old Testament. Oxford: Oxford University Press, 1997.

LOADES, David. The Tudor Age. London: Thames & Hudson, 1992.

MOORE, Susan Hardman. Henry VIII and the Reformation in England. Oxford: Blackwell Publishers, 1997.

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1541 - A Grande Bíblia

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