1390 d.C. e 1731 d.C. - Novo Testamento de Wycliffe


Os primeiros manuscritos da Bíblia em inglês foram produzidos por volta da década de 1380 d.C. sob a liderança de John Wycliffe, um influente professor, acadêmico e teólogo da Universidade de Oxford. Wycliffe é amplamente reconhecido como precursor do movimento da Reforma Protestante, tendo questionado vigorosamente o papel e os ensinamentos da Igreja Católica Romana, especialmente em relação à autoridade e à interpretação das Escrituras. Para Wycliffe, a Bíblia deveria estar disponível a todos os cristãos, não apenas ao clero, o que motivou sua tradução para o inglês, uma ação considerada radical na época.

A tradução de Wycliffe não foi apenas um marco linguístico, mas também teológico, pois representava uma ameaça direta à hegemonia da Igreja, que monopolizava a leitura e a interpretação das Escrituras em latim. Esse contexto histórico deve ser entendido dentro da dinâmica de poder da Igreja Medieval, que via a disseminação de textos bíblicos em vernáculo como um risco à sua autoridade. Tamanha foi a oposição à tradução que, anos após a morte de Wycliffe, o Papa Martinho V ordenou que seus ossos fossem exumados, queimados e dispersos em um rio como punição póstuma por seus "heréticos" ensinamentos e sua ousadia em traduzir a Bíblia.

É relevante ressaltar que o inglês utilizado na tradução de Wycliffe era o inglês médio, um idioma ainda distante do inglês moderno e que apresenta muitas semelhanças com a língua utilizada por Geoffrey Chaucer, o famoso autor de *Os Contos da Cantuária*. Este período marca uma fase de transição linguística, o que torna a leitura dos textos de Wycliffe desafiadora para os leitores contemporâneos. Contudo, o impacto de sua tradução foi profundo e estabeleceu um precedente para futuras traduções da Bíblia, culminando, séculos depois, na famosa versão King James, que se tornaria um dos textos mais influentes da língua inglesa.

Wycliffe, ao defender a tradução da Bíblia, também introduziu discussões importantes sobre a natureza da autoridade espiritual e a relação entre o Estado e a Igreja. Seus escritos, especialmente suas críticas à doutrina da transubstanciação e à indulgência papal, influenciaram figuras reformadoras posteriores, como Jan Hus e Martinho Lutero, que deram continuidade à luta pela reforma religiosa e pela acessibilidade das Escrituras.

A reimpressão de 1731 é especialmente importante porque permitiu a preservação e divulgação desse manuscrito essencial em um momento em que o acesso a exemplares da tradução de Wycliffe era extremamente limitado.

Referências:

FARRER, Austin Marsden. The Reformation of the Bible. Cambridge: Cambridge University Press, 1994.

HUDSON, Anne. The Premature Reformation: Wycliffite Texts and Lollard History. Oxford: Oxford University Press, 1988.

LEVY, Ian Christopher. John Wyclif: Scriptural Logic, Real Presence, and the Parameters of Orthodoxy. Milwaukee: Marquette University Press, 2003.

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Link para visualização do documento histórico:

1390: 

https://drive.google.com/file/d/1pYkx1S414WMRste37Pn1QneZMOhYdHFq/view?usp=sharing


1731: